[...] o que Charles Muller trouxe, em 1894, foi um esporte universitário e burguês, elegante e obediente a um código. Esporte de Gentleman, exatamente como são o tênis e o golfe hoje. [...] pelo menos dez anos seguintes, o futebol continuou um jogo inglês e de elite: os jogadores eram, na sua esmagadora maioria, técnicos industriais e engenheiros ingleses (SANTOS, 1981 apud FREITAS, 2000, p.3).
Porém, em pouco tempo, sua prática não era mais privilégio das elites, sendo praticados em clubes, em fábricas pelos operários e em camadas menos favorecidas. A importância que as pessoas atribuíam ao futebol pode ser justificada pela possibilidade da disputa em condições de igualdade com representantes de países que na vida social sempre foram superiores.
Entretanto, no campo de futebol, uma vitória é prova de uma superioridade e este resultado transcende ao próprio jogo, expandindo suas conquistas e honrarias ao grupo que está diretamente ligado ao vencedor (neste caso o torcedor, o qual se sente tão importante quanto o próprio jogador), sintetizando pode-se dizer que o êxito obtido pelo indivíduo passa diretamente para o grupo.
O clube de futebol é uma das formas de organização e ocupação do espaço social que revela um duplo movimento de configuração da sociedade, pois, ao mesmo tempo em que o clube se constitui um elemento de integração do imigrante na sociedade local, o imigrante, por sua presença populacional dá a cidade uma nova configuração sócio-cultural (RIBEIRO, 1998
Buscam-se explicações para a grande popularidade do futebol no Brasil. Uma justificativa seria a idéia de que os negros, cujo número é grande no Brasil, possui características físicas e culturais da raça que propiciariam a expressão corporal, destacando-os em atividades de ritmo e coordenação, como a capoeira, o samba e outras atividades de origem do continente Africano.
Outra razão para a o sucesso do futebol no Brasil também poderia ser a facilidade de ser praticado, pelas possibilidades de execução em vários espaços e com materiais simples e adaptados. Além disto, suas regras são consideradas simples se comparadas a de outros esportes como voleibol e o basquetebol.
Estas análises, ou seja, a facilidade de sua prática e as possíveis vantagens da miscigenação racial existente na prática do futebol brasileiro, levaria a uma relevante contribuição para justificar sua popularidade. O Futebol, somado as vantagens citadas a um contexto cultural de nossa população, atenderia as necessidades do brasileiro, sendo mais do que apenas um jogo lúdico, possibilitando situações características do jogo, que traz contribuições na formação cultural do homem, na compreensão dos seus limites, vivenciando vitórias e superando derrotas, comum no cotidiano de uma sociedade.
O futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontra para se expressar. É uma maneira do homem nacional extravasar características emocionais profundas, tais como, paixão, ódio, fidelidade, felicidade, tristeza, prazer, dor, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras (DAMATTA, 1997).
O carisma por clubes e pela seleção nacional de futebol chega, em competições como a Copa do Mundo, a renovar o espírito nacionalista de um povo, espírito este esquecido pelas dificuldades enfrentadas pela população mais carente.
O futebol está presente no dia a dia do brasileiro. Em jornais, revistas, televisões, rádios, nos ambientes de trabalho, enfim, ao analisar o cotidiano da população brasileira nota-se músicas, filmes e novelas sempre destacando o futebol em suas programações.
Terminologias futebolísticas fazem parte do nosso vocabulário: "pisar na bola", "bater na trave", "gol de letra", "bola murcha", entre outras; expressões incorporadas às manifestações diárias.
O brasileiro sofre pelo seu time. Quanto maior a dificuldade parece que o amor aumenta. "No Brasil, essa fidelidade vem desde o nascimento, quando o garoto recebe um nome, uma religião e um time de futebol para o qual vai torcer a vida toda" (DAOLIO, 1998, p.3).
O reconhecimento global da importância do futebol brasileiro justifica-se por ser o Brasil o único país pentacampeão mundial, o único a participar de todas as Copas do Mundo, ser ainda o maior exportador de craques, ter o maior estádio do mundo, entre outros aspectos de comum conhecimento daqueles contempladores desta modalidade.
Porém, tudo isto, contradiz com problemas tais como: calendário com jogos constantes que sacrificam clubes, jogadores e torcidas; a média salarial é baixa em relação a poucos jogadores de grandes equipes; os clubes estão endividados em com salários atrasados; demissões de jogadores e comissão técnica são freqüentes, não existindo o respeito a um planejamento a médio ou longo prazo; evasões de renda e administração amadora onde, em muitos casos, políticos utilizam-se do clube apenas para arrecadar votos, investindo em períodos eleitorais e abandonando-os em situações desastrosas após as eleições.
apud FREITAS, 2000). 4- O Trabalho dos Treinadores de Futebol no Brasil
Atualmente, a organização do trabalho de treinadores de futebol tem enfrentado diversas dificuldades e vários são os motivos. A instabilidade profissional, com mudanças constantes dos clubes em seu comando técnico, mesmo que estes clubes busquem na nova contratação, um profissional com perfil que tenha afinidades com a filosofia adotada pelo clube, provoca rupturas na estrutura do Departamento de Futebol, pois mudanças constantes podem prejudicar a integração das diversas áreas e profissionais envolvidos nesta organização. Afora isso, é inevitável a perda de produtividade em virtude do período de adaptação não só do profissional, mas também de seus colaboradores.
Segundo Leal (2000), denominados como especialistas, continuam hoje, muitos treinadores serem ex-jogadores, que, ao encerrarem a carreira, mantêm vínculos com os
clubes. Após 1939, A Escola de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, trazia em seus objetivos além da formação de professores de Educação Física a de técnicos desportivos, entre eles o de futebol.
Sabe-se que a organização de um trabalho passa necessariamente por diversas fases, a do conhecimento da empresa (clube), o conhecimento do trabalho a ser exercido e o dos executores deste trabalho (atletas e comissão técnica). Com este conhecimento, pode-se levantar possíveis falhas na elaboração da tarefa e aplicar recomendações com o objetivo na melhora da produtividade.
Neste processo, as funções de um treinador, em razão da popularidade do futebol, exigem do mesmo um conhecimento amplo da modalidade bem como uma boa comunicação, pois as formas de se expressar serão de suma importância em sua vida profissional. Para MARQUES (2001), quem quer ter sucesso como treinador no desporto de alto rendimento tem que ser dono de um conjunto vasto de recursos em conhecimentos e competências, uma vez que somente com intuição e inspiração não se obtém resultados.
Os treinadores de futebol, conforme características em suas formas de comandar suas equipes, são muitas vezes definidos como estrategistas, uma vez que esta designação atribui a este profissional um grande conhecimento da prática do jogo, organizando seus jogadores em campo de uma forma harmoniosa, procurando explorar seus pontos fortes e amenizar os pontos fracos de seu elenco, com a capacidade de mudar sua forma de jogo para jogo, com vistas a sucessivos progressos, atingindo desta forma seus objetivos com uma economia de esforço.
Além do estrategista, treinadores são chamados de disciplinadores, ditadores, democráticos, casuais, versáteis, psicólogos, enfim, conforme a característica de ação mais utilizada. Estas denominações podem significar pontos positivos e ou negativos da formação deste profissional, devendo cada um, saber o momento certo e as formas de utilização destes determinados comportamentos.
Assessorado por uma comissão técnica, formada normalmente por profissionais de diversas áreas, o treinador de futebol é hoje responsável por toda a programação a ser desenvolvida pela equipe. Não somente pelos treinamentos técnicos e táticos, mas também nos dias de folga do elenco, horários de viagens, concentrações, ida ou não em viagens de integrantes da comissão técnica, enfim funções múltiplas que acabam por atrapalhar seu desempenho específico, mesmo que estas funções busquem auxiliá-lo. Este problema está sendo repensado pelos clubes, cuja organização do trabalho começa a ser realizada de forma mais profissional.
Os treinadores normalmente trabalham com dois tipos de treinamento: o técnico e o tático. O treinamento técnico serve para melhorar a qualidade dos atletas no trato com a bola nos fundamentos do futebol, ou seja, domínio, condução, passe, drible, chute, cabeceio e desarme. O treinamento tático é aplicado para distribuir os jogadores dentro do campo observando-se as características individuais, sem tirar sua criatividade e capacidade de improvisação, buscando-se assim uma maior produtividade. 5- Organização do Trabalho de Treinadores de Futebol
A Organização do trabalho é fator decisivo para o sucesso de qualquer empresa. Os clubes de futebol, com o surgimento da nova filosofia empresarial imposta e em função da constante competitividade que enfrentam, estão em busca constante de modernização e soluções para seus problemas.
Questionados quanto as principais dificuldades enfrentadas no trabalho, verificou-se que os atuais treinadores enfrentam diversos problemas para desempenhar suas funções nos respectivos clubes. A instabilidade profissional, com 42%, foi considerada como o principal problema da classe. A problemática do atual calendário de jogos foi citado por 23% dos treinadores; 19% destacaram a interferência de diretorias dos clubes; 12% a interferência da imprensa e 4% o relacionamento com jogadores como principal problema (Figura 1).
Estes resultados demonstram que a busca de resultados imediatos e os constantes jogos que impedem qualquer planejamento, aliados a pressões de diretoria, imprensa e torcidas, acabam por impor barreiras ao profissional Treinador de Futebol. Esta instabilidade comprovou-se pelas constantes mudanças ocorridas nos clubes durante a 1ª fase do campeonato Brasileiro de 2001 (Figura 2).
Houve 26 mudanças no comando técnico das 28 equipes participantes da 1ª Fase do Campeonato Brasileiro, ou seja, 15 profissionais perderam seus empregos no período de quatro meses; cinco profissionais trocaram de clubes e apenas 11 dos 28 clubes
3485645360246810Organização do Futebol BrasileiroCalendário de jogosEstrutura dos clubesTrabalho nas categorias de baseFormação dos TreinadoresDirigentes dos clubesNível intelectual dos jogadoresNível da arbitragemEvolução do futebol brasileiro
42% 12% 19% 4% 23% Instabilidade profissional Interferências da imprensa Interferências da Diretoria Relacionamento com jogadores Calendário de jogos
mantiveram seus treinadores do início ao fim da 1ª fase do campeonato, cuja durabilidade foi de apenas quatro meses.
Outro dado significante mostra que dos oito clubes finalistas da competição, seis mantiveram seus treinadores desde o início, ou seja, acreditaram da necessidade de tempo para a aplicação e conseqüente resultados de um planejamento.
Estas informações demonstram a importância e o resultado do trabalho quando executado com tempo adequado e planejamento. Além disto, pode indicar aos clubes que realizaram tais mudanças e não obtiveram sucesso, que o problema possa ser de ordem organizacional do próprio clube e não das funções e competências dos treinadores.
6- Considerações Finais e Proposições Acerca da Temática Abordada
Neste artigo, procuramos analisar a organização do trabalho de treinadores de futebol, algumas das suas principais dificuldades e estratégias de ação na busca de uma maior produtividade, relacionando a importância de fatores alheios ao instante do jogo em todo seu contexto.
Passamos a perceber que o futebol, pelo seu papel de destaque no cenário mundial, exige do profissional Treinador de futebol uma atenção especial em relação às evoluções em diversas áreas. Novas formas de organização do trabalho na busca constante de uma melhor performance e conseqüente aumento de produtividade devem ser preocupações diárias desta classe.
Na intenção de amenizar a questão da instabilidade profissional, principal dificuldade relatada pelos treinadores, ousamos propor o início de um estudo relacionado à inclusão no regulamento dos campeonatos (inclusão esta imposta pelo órgão máximo diretivo do futebol), de uma eventual limitação na troca de treinadores numa mesma competição. Acreditamos que isto poderia contribuir para trazer uma maior estabilidade além de propiciar um conseqüente favorecimento de planejamentos mais adequados para o trabalho destes profissionais.
Procuramos ainda, apresentar contribuições à organização do trabalho de Treinadores de Futebol no Brasil, porém, é evidente a necessidade de novos estudos para uma maior compreensão e evolução do futebol brasileiro e em especial deste profissional, sem desconsiderar, é lógico, pontos extremamente importantes que não podem deixar de ser mencionados.
Tal menção se apresenta no instante em que trazemos à tona detalhes como a formação profissional dos treinadores de futebol, a necessidade em se obter uma formação específica, a situação em ter sido ou não um ex-jogador, o tempo (anos) de atuação profissional como treinador e por que não dizer o tempo necessário para que se possa estar implantando uma filosofia de trabalho, além de outros aspectos que são de relevante consideração ao se tratar do assunto em questão e que, neste momento, cabe-nos apenas levantar tais circunstâncias para que se possa estabelecer um campo imaginário de contemplação e complexidade da situação.
TRAINERS OF SOCCER: AN ASSAY BY MEANS OF SOME DIFFICULTIES IN THE PRODUCTIVITY OF THESE PROFESSIONALS
Abstract
This article has the intention to present information concerning the important function played for the soccer trainer, being presented factors that demonstrate to its yearnings and the reality where the same he is inserted. It still demonstrates nuances concerning the professional instability that these trainers constantly come across themselves besides emphasizing questions that say respect to the called "money market of the technician". We search with this study, to quantify aspects of utmost importance for the profession of Trainer, in the intention biggest to be optimizing the productivity of this professional.
Key words: Coach; Football; Organizer Planning; Strategy
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Mestre em Engenharia de Produção UFSC
Centro Universitário Positivo UNICENP Curitiba/Paraná/Brasil
mmarturelli@unicenp.edu.br
OLIVEIRA, AURÉLIO LUIZ DE
Mestre em Educação Ensino Superior UEPG
Centro Universitário Positivo UNICENP - Curitiba/Paraná/Brasil
Instituto Superior de Educação SantAna Ponta Grossa/Paraná/Brasil
aurelio@unicenp.edu.br
Curso para treinador de futebol: Dezembro de 2009 em Arujá - SP
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Resumo
Este artigo tem a intenção de apresentar informações acerca da importante função desempenhada pelo treinador de futebol, apresentando fatores que demonstram seus anseios e a realidade onde o mesmo está inserido. Demonstra ainda nuances acerca da instabilidade profissional que estes treinadores constantemente se deparam além de enfatizar questões que dizem respeito à denominada "ciranda dos técnicos". Buscamos com este estudo, quantificar aspectos de suma importância para a profissão de Treinador, na intenção maior de estar otimizando a produtividade deste profissional, cujas informações poderão contribuir na construção de novas estratégias de ação.
Palavras-chave: Treinadores; Futebol; Planejamento Organizacional; Estratégia
1- Reportando às Origens do Futebol e a sua atual Situação
Desde sua introdução, seja na Inglaterra em 1863 ou no Brasil em 1894 por Charles Muller, o futebol passou de esporte de elite para o mais popular em todo o mundo. No início do século XIX, no Brasil, o velho esporte britânico criou um caráter cultural contraditório aos valores tradicionais. A sociedade, hierárquica e escravocrata, habituada a jogar e não a competir, reagia diferentemente ao futebol, pois este dava ênfase ao desempenho, produzindo ganhadores e perdedores democraticamente, obstante a nomes ou a outros preconceitos.
O futebol fez com que a sociedade aprendesse a separar as regras dos homens a do jogo, começando assim a ser apreciado por todos.
Visto como uma atividade de grande popularidade, o futebol deve isto graças a seu fascínio, à facilidade de poder ser praticado em pequenos espaços e ao baixo custo do material, pois, uma simples bola feita de meia velha, recheada de papel,
jogada por pés descalços, excita, diverte e socializa uma coletividade. (LEAL, 2000, p.25)