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Malhar para RECORDAR

A suspeita de que a prática de exercícios tem grande influência sobre o cérebro vem de longa data. Não é novidade, por exemplo, que eles favorecem o bombeamento de sangue, o que signifi ca mais oxigênio para as células da massa cinzenta. Recentemente, porém, exames de ressonância magnética forneceram provas irrefutáveis de que seus efeitos extrapolam o incremento na circulação. Há uma mudança em certas estruturas e até mesmo o aumento do volume do cérebro. “Caiu por terra a crença de que, uma vez formado, ele só sofreria alterações físicas em casos de doença. A atividade física, inclusive, pode modificá-lo”, Conta o neurologista Li Li Min, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, no interior de São Paulo.

Um trabalho recente da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, aponta que a região cerebral mais beneficiada pelos esportes ou pela ginástica é o hipocampo. E é bem ali que ficam arquivadas as nossas lembranças. Os cientistas monitoraram durante três meses o comportamento do hipocampo de 11 voluntários, antes e depois de correr na esteira. Essa área foi se tornando cada vez mais requisitada. A circulação ficou mais intensa nesse ponto da massa cinzenta, sem contar indícios da formação de novos neurônios. A performance dos voluntários nos testes de memória também melhorou bastante, confirmando o que se presumia nas imagens da ressonância

Os neurocientistas até arriscam uma explicação de pura química para os ganhos proporcionados pelos exercícios. Segundo eles, quando nossos músculos se flexionam e se relaxam seguidas vezes, liberam uma proteína chamada IGF-1. Ela, por sua vez, viaja até o cérebro e ali estimula a síntese de uma substância, o BDNF, envolvido com a nossa capacidade de raciocínio apurado.

Outro estudo que comprovou a ação da atividade física sobre a memória aconteceu no Hospital das Clínicas de São Paulo e foi coordenado pela professora Maria Ângela Soci, presidente da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan. “Junto com uma equipe do departamento de gerontologia do hospital, selecionamos 20 voluntários com mais de 65 anos que praticaram essa modalidade duas vezes por semana”, conta Ângela. Depois dos três primeiros meses de atividade, o grupo passou por uma avaliação e os resultados surpreenderam os especialistas. “Houve grande melhora na concentração e na memória.”

A capacidade de reter informações não é o único ganho proporcionado pelos exercícios. “Eles beneficiam o sistema neurológico como um todo”, diz o médico Arnaldo José Hernandez, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. “E quanto mais lúdica a modalidade, melhor”, observa. Além de deixar o raciocínio tinindo, manter-se ativo fisicamente ajudaria a evitar e até tratar certas doenças neurológicas. Alguns trabalhos defendem que mexer o corpo com regularidade diminui os riscos, por exemplo, de pequenos derrames, aqueles que às vezes nem são notados na hora agá, mas que atrapalham a cognição, ou seja, a capacidade de assimilar conhecimento.

O que seria essa tal prática regular? O estudo realizado no Hospital das Clínicas de São Paulo revelou que fazer exercícios duas vezes por semana já faz um bem enorme, mas ainda não há consenso sobre a freqüência ideal. Muitos pesquisadores sugerem que você se exercite pelo menos três vezes por semana — essa é a indicação, aliás, para quem quer dar uma força ao corpo inteiro, sobretudo o sistema cardiorrespiratório.

O certo: em matéria de cabeça, quanto mais cedo você adota uma rotina de exercícios, melhor. “Isso porque o seu efeito é cumulativo”, diz Arnaldo José Hernandez. A memória de quem malha desde a juventude tende a se manter a mil pela vida inteira.

CÉREBRO MALHADO
 Na Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista, os pesquisadores analisaram as imagens do cérebro de 36 indivíduos — 20 sedentários, oito judocas e oito corredores de longa distância. “Só notamos alterações positivas na massa cinzenta dos que praticavam exercícios”, explica Wantuir Jacini, professor de educação física e mestre em neurociência. “E o mais impressionante foi que as mudanças no grupo dos lutadores de judô não foram as mesmas observadas na turma dos que correm”, completa Wantuir, que usou essa pesquisa em sua tese de mestrado. “Isso pode ser um indício de que precisamos lançar mão de atividades diferentes para prevenir diferentes problemas, como o Parkinson e o Alzheimer." O orientador do estudo, o neurologista Li Li Min, acrescenta: “Esse é só o começo de um longo caminho até que se possa recomendar com precisão este ou aquele esporte para combater males diferentes”.


ILUSTRAÇÕES MURILO MACIEL / PRODUÇÃO INA RAMOS E ANDREA SILVA / FAST RUNNER / TRACK & FIELD / FAST RUNNER/ CENTAURO

Data:10.08.2007

Fonte:http://saude.abril.com.br/edicoes/0287/corpo/conteudo_242012.shtml

 
 
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